Os mobiliários urbanos proporcionam diferentes possibilidades de ocupação, e podem ser entendidos como uma ferramenta que ampara a vida cotidiana em meio aos movimentos das pessoas, ao conversar, descansar, contemplar e observar a cidade. Sem dúvida a principal vantagem é possibilitar que as pessoas se relacionem com a cidade, e umas com as outras, deixando através deste tipo de situação as cidades mais vivas.
Desde que começaram a surgir, os parklets trouxeram um novo olhar para a rua em Balneário Camboriú. Um dos escritórios responsáveis por desenvolver o primeiro projeto na cidade, foi o Térreo Arquitetos, que tem os sócios Felipe Kaspary, Paula Dili e Rodrigo Reche, grandes entusiastas da vitalidade urbana.
Melhorar a qualidade da rua é uma grande motivação dos arquitetos, que protagoniza o usuário em primeiro plano com as intenções projetuais. “Este é um discurso conceitual, no sentido de que estas instalações nos dizem que as cidades são feitas para a permanência em meio ao espaço público, para uso das pessoas e suas atividades, contrapondo o modelo rodoviarista que está em vigor. Esta transição de pensamento da cidade, em torná-la mais agradável, é muito bem representada por este tipo de ocupação urbana que promove uma maior interação humana com o espaço público”, conclui.
A jornalista e escritora Jane Jacobs publicou “Vida e Morte das Grandes Cidades” em 1961, e se tornou um “manual” para os urbanistas das gerações seguintes. No tema, a autora pontua o que torna as ruas seguras ou inseguras, defendendo a importância da vitalidade para as cidades e as ruas garantirem essa segurança essencial. Com esta base literária, o Térreo Arquitetos comenta que “se imaginarmos uma rua com comércios em contato direto com a rua e a cidade, temos um cenário mais vivo, com farmácias, restaurantes, bares e mercadinhos”.
E o Térreo Arquitetos ainda complementa com uma provocação. “Percebam que os comércios que tem seu funcionamento em diferentes horários do dia, inclusive a noite, a passagem por ali já não é mais um desafio, e torna-se um local seguro para transitar a pé. São os chamados ‘olhos da rua’, que garantem a segurança”.
O visual estético também é um partido importante para o Térreo Arquitetos, considerando que é uma identidade reforçada pelo projeto na instalação que está sendo analisada. “É interessante que a linguagem estética do mobiliário seja atual, e reforce os interesses culturais desta época e do local aonde estiver inserido. Seu design deve amparar o uso, com materiais resistentes coerentes com a função urbana, de baixa manutenção, ser convidativo e proporcionar uma ocupação democrática em busca de encontros. Deve ser um espaço atrativo visualmente e que estimule a permanência dos usuários”, defendem os arquitetos.
O primeiro parklet em Balneário Camboriú surgiu da vontade de representantes políticos da sociedade, após a autorização para sua instalação ser prevista por lei municipal. Nesta etapa, o Térreo Arquitetos participou ativamente do processo. “Assim que a Lei Ordinária 4246 2019 foi apresentada e aprovada, participamos deste processo a convite do escritório de arquitetura Studio Arcos, e desenvolvemos em conjunto o projeto e execução do primeiro parklet de Balneário Camboriú, que foi proposto para a hamburgueria Anker, na Barra Sul. A população logo entendeu a proposta, e se interessou em requerer o espaço”.
Os parklets são espaços públicos da cidade, e tem garantia que seu acesso seja democrático, para a população. “Eles trazem uma experiência de uso diferente, possibilitando uma prática do ganha-ganha, pois o comerciante que investe em um destes espaços em frente ao seu negócio amplia seu espaço de atendimento, a população ganha um espaço de lazer e descanso em meio a rua e pode usá-lo livremente em seu cotidiano, e por fim a prefeitura não tem custos adicionais com este espaço de lazer, pois a manutenção é garantida pelo próprio proponente”, finaliza.
